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sexta-feira, 26 de março de 2010

Vermelho Escarlate Capitulo 5- O Sonho

Capitulo 5 – O Sonho (Parte narrada por Antonio)






Eu estava em uma sala, repleta de espelhos, de todas as formas e tamanhos. E em cada espelho, via alguma de minhas recordações mais dolorosas, tentei as enfrentar com todas as forças, mas ajoelhei-me no chão, com as mãos sobre o rosto, pois ao olhar para frente, vi uma outra pessoa naquela sala. Eu me vi na sala, então percebi que estava dentro de um dos espelhos, talvez vivendo um momento difícil.
O outro eu, me olhava fixamente nos olhos, em pé, resolvi o encarar também, porém, era mais difícil do que eu imaginava. Os olhos da figura a minha frente não eram iguais aos meus, mesmo não tendo certeza de como meus olhos estavam agora, creio que não estariam vermelhos como o da figura à minha frente. Não era fácil olhar para aqueles olhos raivosos, mas eu tentei.
Ele estava vestido da mesma maneira que eu, uma espécie de manto preto, um pouco rasgado nas mangas e na parte da saia.
E nisto, eu percebi que estava errado, não estava em espelho algum, mas ele também não estava.
Ele se abaixou e apanhou meu rosto com uma de suas mãos delicadas, meus olhos já não sabiam para onde olhar, mas o estranho a minha frente me obrigava a olha-lo, quando ele interrompeu o silencio e falou:
_ Você tem medo de si mesmo? – o outro eu perguntou com um sorriso de canto no rosto.
_ Não, não tenho medo de você – respondi, admito que estava com um pouco de medo.
Ele me olhou indeciso, e novamente sorrio, respondendo:
_ Então lhe ajudarei – ele apanhou meus pulsos os virando para cima com rapidez, e os lambeu com a ponta da língua. Assustou-me de principio, mas o pior ainda estava por vir. Sua saliva foi ficando vermelha, até se transformar em sangue. Isso marcou meus pulsos, em cada um havia uma cruz rodeada por uma corrente, e com um cadeado a fechando no centro.
_ O que é isso?! – Gritei desesperado, esfregando minha mão por cima, tentando retirar a “tatuagem” deixada.
_ Isso é apenas a última parte do pacto. Não precisa ficar preocupado, nós nos veremos novamente. Amanha antes das sete da noite.
Ele se sentou a minha frente, e observou um dos espelhos, serio.
_ O que é você? O que você fez comigo?! – perguntei aos gritos, esfregando ainda meus pulsos.
Ele olhou para mim novamente, com um ar de quem estava cansado de minhas perguntas, um olhar triste, sozinho. E respondeu:
_ Eu sou você, na medida do possível – olhou para frente brutamente - Eu sou um Servo, seu Servo.
_ Um... Servo?
_ Sim, um Servo, uma criatura criada por um anjo, a partir de um minúsculo pedaço de alma humana, através de algo “intimo”, como um beijo. Fui criado para concretizar um pedido, no seu caso, ajuda-lo a cumprir o pacto. Depois disso vou... Desaparecer.
_ Mas, se você sou eu...Meus olhos não são...- o Servo interrompeu minha fala.
_ Vermelhos? É porque sou uma parte anjo também. O anjo utiliza uma de suas penas, geralmente, ou um pouco de seu sangue, quando nos criam.
_ E como você sabe de tudo isso se...- o Servo interrompe novamente...
_ Se eu acabei de nascer? Porque não é apenas uma alma e uma parte de um anjo que faz um Servo, é necessário bem mais para conseguir criar-lo. Uma parte de um anjo, um pedaço de alma viva humana, algo intimo entre o anjo e o humano vivo, e um pedaço de alma morta humana que não tem mais direito a reviver. – o Servo falava com ignorância.
_ Então você vai matar... ?
_ Sim, nós vamos. Este foi o pacto não é? Então entre as sete horas da noite, e as sete da manhã, eu serei você. E após uma semana, tudo acabará. Recomendo que durma antes das 6.00 PM, pois assim o processo é menos dolorido.
Devo dizer que me senti um pouco aliviado quando ele disse que eu não precisava matar ninguém, mas isso ainda me deixava muitas duvidas, mas não foram respondidas, pois eu acordei.

terça-feira, 23 de março de 2010

Vermelho Escarlate- Capitulo 4- O Pacto

Capitulo 4- O Pacto






Escurecendo, as folhas dançavam conforme o vento soprava e sussurrava nos ouvidos, passava dentre os fios de cabelo de Antônio, sua ultima lagrima caiu.
Suas mãos sujaram seu piano.
Uma pausa dramática aconteceu, enquanto Antônio olhava suas mãos sujas.
A porta se abriu brutamente, o vento invadiu a casa, trazendo com sigo folhas secas que estavam espalhadas pelo jardim mal cuidado.
Antônio bate cruelmente nas teclas de seu piano com as mãos fechadas, fazendo um som desafinado ecoar pela casa.
O vento cantava lá fora, e Antônio estava sozinho... Sozinho.
Sozinho, Sozinho, Sozinho, Sozinho, Sozinho, Sozinho...
Abraçou a si mesmo, mas mesmo que tentasse, suas lagrimas não corriam por seu rosto.
Olhou o seu reflexo pelo vidro da janela, e teve nojo de si mesmo.
“Inútil, imprestável, sua culpa, sua culpa!” Repetia para si mesmo em sua mente, tentando se culpar o menos possível “você poderia ter feito algo, não passa de um assassino!”.
_Desculpe Lucy, Desculpe... – sussurrava, abraçando-se.
E novamente se relembrou da cena, doía pensar nisso, ver a cena de sua irmã morta.
O vento soprava forte e bruto, mas por um instante, ele parou.
Por um instante não ouviu nada, o que alimentou sua solidão.
Não havia vento, não havia chuva, não havia trovoes, não havia piano, não havia acordes, não havia respiração, não havia nada.
Até que por um segundo, juraria ouvir uma criança chorando, mas ele já não existia, como poderia existir outra pessoa lá?
Mas esse segundo se converteu em minuto.
Notou que não estava mais sozinho, havia sim alguém ali, uma criança ou um bebe chorando. Quase não se importava com isso.
Antonio levanta-se com brutalidade, e segue até a porta de entrada, dando uns passos a mais, até a escada.
Tinha medo de olhar para o lado, e ver o que ali estava. Seu coração começou a pulsar mais forte, Antonio suava e tremia, estava com a pele opaca. Com medo do que viria olhou para seu lado esquerdo, no mesmo local onde Lucy havia sido enterrada, e lá viu.
Paralisou-se. Estremeceu-se, e por fim, viu Lucy, ali ajoelhada de costas, com suas delicadas mãos no rosto, seu cabelo com aparência molhada e suas lagrimas molhando o chão.
Antônio por impulso foi ate Lucy, correndo. Ao chegar perto, parou, e a abraçou lentamente.
Não a sentiu.
_Lucy...? – perguntou para a garota à sua frente, mesmo sabendo que ela não responderia, ela não podia, Lucy não falava, era uma criança sem voz.
Antonio não quis se afastar, pois mesmo sendo um “fantasma” era Lucy ali.
_ An...Tônio...- Sussurrou Lucy, com dificuldade.
_Lucy? Lucy! Você não... -Neste momento Antonio salta para trás, seu medo volta à tona novamente, sua mão o apóia por trás, recuando cada vez mais.- Você não fala...
A garota, que agora parecia ter saído de um filme de terror para Antonio, ia cada vez mais para frente, quando mais Antonio recuava. Ela fitou os olhos verdes rubi de Antonio, seus cabelos molhados pingavam, e lagrimas de seu rosto caiam de seus olhos esbugalhados e amedrontados.
_ Não... Não... Dizer... – Lucy falou com dificuldade, mas rápido.
Antonio não entendia o que ela estava querendo falar, não queria entender, queria fugir, com medo. Lucy era muda, não podia falar... Mas também estava morta, e não podia estar ali. E tudo o que ele queria era não ter procurado o motivo do choro, mesmo dando de tudo para ver sua irmãzinha outra vez em vida.
Desistiu quando notou que quanto mais recuava mais Lucy seguia para frente dizendo repetidamente “não... não dizer”.
_ O que não dizer Lucy? – Antonio amedrontado, recupera sua coragem e com ar no peito pergunta.
_ Sim. – Lucy respondeu.
Antonio não entendeu a resposta, ainda estava pálido, e tremendo por ter visto o espírito de sua pequena irmã, e então percebeu, o quando ela estava sofrendo, talvez por ter morrido.
Ela então recuou, seus cabelos molhados caiam em frente de sua face de mármore. Esticou seus braços para frente, tentando alcançar Antonio, mas não conseguia, Antonio então esticou seu braço para alcance-la, mas quando suas mãos se encostaram o vento soprou, e Lucy nele se diluiu.
Antonio realmente nesta vez sentiu as mãos dela, sua mão estava fria e dura.
Abraçou a si mesmo, culpando-se novamente pela morte da irmã, se espremeu como um feto em si mesmo, e gritou com toda sua forca:
_ Lucy! – Antonio pensava em explicações para aquilo, tentava não se culpar, mas era impossível, ele sabia de quem era a culpa, era do assassino, daquele que não conseguiu salvar sua mãe, daquele que sabia quem era o assassino, mas mesmo assim, nunca contou, a culpa era dele mesmo, de Antonio.
_É um sonho, é um sonho-repetia consigo mesmo, enquanto o vento batia forte em seu corpo.
A arvore ao lado de Antonio mexia-se conforme o vento soprava, e em baixo dela, o vento batia no cabelo de outra pessoa.
_Tse,tse,tse- uma outra pessoa falou essa onomatopéia enquanto fazia não com o dedo indicador.- Isso não é um sonho, Antonio.
Antonio olhou para o lado, cada vez mais assustado, com a mão cobrindo o rosto deixando apenas seus olhos transparecerem entre os fios sujos de cabelo loiro.
Antonio imaginava que estava louco, que isso que ele merecia, que havia só mais um passo par ir para o inferno. Morrer. Talvez fosse isso que aquele anjo que estava na sua frente agora viesse fazer isso, leva-lo para lonlonge, para o inferno, a tal besteira que Marta também imaginou, mas pensando ir para o céu no seu suicídio.
O cabelo vermelho do anjo batia e ele sorria.
_ Você deve imaginar que está louco, não é Antôninho? Hihihi – rio o anjo, com a mão na frente da boca.
Neste momento, levantou-se e se locomoveu para perto de Antonio, que estava espremido no chão com o rosto coberto por suas mãos sujas, e sentou-se na frente do garoto loiro e sujo de barro.
_ Está com medo, Antôninho? Hihihi-riu novamente o anjo, suas vestes negras com diversos cintos eram com um pouco de dificuldade carregadas pelo vento.- e se... Você fizesse um acordo comigo?- o anjo agora olhava o rosto abaixado de Antonio.
Antonio voltou a realidade por um instante, e perguntou: 
_ Q...Que tipo de acordo?- suas mãos tremiam, e Antonio novamente suava frio.- Um pacto? – falou recuando.
_ É... Acho que podemos chamar isso de pacto, Antôninho... Ou talvez de troca. Hihihi.
Antonio fitou os olhos verdes do anjo por um segundo rápido, em seguida desviou o olhar para o canto direito de baixo.
_ N...Não posso... – falou após retirar as mãos do rosto.
Os olhos do anjo foram mudando de verde rubi para castanho avermelhado e em seguida para vermelho escarlate.
_ Não? Não?Hahaha-o anjo riu com um sorriso de loucura estampado no rosto andrógeno.- Não, não, não... Antôninho não vai salvar Lucy, Antôninho vai deixar Lucy sozinha com sua avó, no quarto... Morrendo...Hihihi.
Antonio relembrou-se da cena, do passado, e tudo isso confundia sua cabeça, as lagrimas eram impedidas de cair por orgulho, o mesmo motivo que o fez levantar seu rosto, e perguntar:
_Qual é o acordo? – tentou levantar-se, mas o Maximo que conseguiu levantar foi sua cabeça. Seu corpo mal mexia de medo, gaguejava ao falar.
_ Em fim, estamos nos entendendo, Antôninho...- o anjo, então desaparece por um segundo e reaparece em pé na frente de Antonio, observando Antonio de cima. – Quanto você acha que vale uma vida, Antôninho?Duas... Três... Sete? Hihihi...
Antonio levanta seu rosto, agora olhando os olhos verdes novamente do anjo, seu cabelo loiro caia sobre seu rosto sujo, carregado ainda pelo vento.
O anjo abaixa sua coluna, e um pouco seu joelho, chegando cada vez mais perto do rosto de Antonio. Com sua mão direita apanhou levemente a parte esquerda do rosto “morto” de Antonio.
_ Você daria a vida de sete mulheres para salvar apenas uma, a que você mais ama? – falou fitando os olhos de Antonio, com uma expressão simpática, falsa.
_ Lucy? – perguntou Antonio, inocente.
_ Sim, Lucy... Basta me dar as vidas de sete pessoas...
_ Matar?
_ Sim, matar. Hihihi – sorrio com a mão em frente à boca.- Para ter Lucy de novo... Para sempre. 
_Eu não posso... – olhou para baixo novamente, abaixando sua cabeça.
_ Eu posso te ajudar, não se preocupe com isso... Eu só vou precisar de seu corpo Antôninho. Você não faz nada...Quase nada.
_ Como? O que pretende fazer?
_ Você saberá se dizer sim... Hihihi.- sorrio com a mão em frente à boca, e começou a cantarolar – Lucy... Lucy... Lucy está com medo, do quarto escuro, de sua avó... Lucy, Lucy... 
Antonio tampou os ouvidos tentando não ouvir a canção, seus olhos se fecharam, e a mão gelada do anjo que ainda tocava o seu rosto pálido o levantou, fazendo-o abrir os olhos novamente.
_Salve Lucy, diga sim...
_Sim...!
_ O acordo será: Durante sete dias e sete noites, você matara sete mulheres, uma mulher por noite, o seu tempo limite por dia é, matar entre as 7 da noite às 7 da manha, está claro, Antôninho?
Antes que Antonio descordasse ou comentasse alguma coisa, o anjo se impulsionou para frente, e graciosamente lhe beijou. Antonio nada fez para impedir, para ele, aquilo era um delírio de sua mente confusa, nada estava acontecendo, mesmo parecendo real.
Ao terminar o beijo o anjo cochichou no ouvido de Antonio:
_ E assim selamos nosso pacto... – e desapareceu..
O anjo se diluiu pelo ar, de si, sobrou apenas uma pena vermelha, que caiu de sua asa e flutuou até encostar-se ao chão.
Antonio observou-a cair, e após isso, a apanhou com uma de suas mãos e a levantou, e ao entrar na sua casa, a colocou em cima das teclas de seu piano.
E foi tentou dormir.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Vermelho Escarlate Capitulo 3 - Os Cadáveres

Capitulo 3- Os Cadáveres




Ao abrir a porta do quarto, o medo invade o rosto de Antonio. Viu a cena de alguns anos atrás novamente, e então, lagrimas molharam seu rosto.


“Lucy...” pensava Antonio, vendo a cena de longe.


Ele era tão cruel, merecia aquilo, mas, Lucy não, ela não merecia, ela era só uma criança... Uma bela criança, sem passado, sem futuro, que dês dos três anos de idade, nunca brincou com ninguém. Antes, ela tinha um amigo, um irmão, agora, ela mal tinha sua vida.


Talvez fosse a vez de Antonio, fechar seus olhos e sua vida. Porem, não foi isso que ele fez.


Agarrou o cadáver de sua irmã que tinha marcas pelo pescoço de mãos que não mereciam tocá-la.


Abraçou-a por todos os anos de sua vida que não a tinha visto. Estava tão bela, era um pequeno botão de rosa. Seu rosto agora molhado de lagrimas, mesmo com medo, era perfeito, seus dentes, sua bochecha rosada, seus olhos verde rubi, como os do irmão.


Antonio a abrasava, e ao longo do silencio que fazia, apenas pensando nas palavras certas para pensar, mas nada vinha a sua cabeça, queria simplesmente desaparecer, ou voltar ao passado e não fazer o que fez, queria poder salva-la, salva-las.


Um grito invadiu o cômodo da casa.


Mas pensou, se Lucy está ali morta, onde está a velha esnobe? Viu o criado mudo caído e a janela aberta, logo imaginou. Aquela senhora que o prendeu, em um lugar, tão sozinho... Agora estava morta.


“O que fazer?” Repetia consigo mesmo.


Ate que... De uma coisa se lembrou, do enterro de sua mãe. Enterros era uma boa maneira de se esconder algumas marcas do passado. Antonio poderia enterrar uma parte do seu passado, quem sabe assim, seus fantasmas morrerão.


Apanhou sua irmã, cuidadosamente, e a levou até a porta da frente da casa. Arrumou-a na mesma posição que sua mãe havia sido enterrada, notou que havia ficado mais difícil de meche-la, então a deixou naquela posição.


Desceu as escadas da entrada de sua casa, caçando um lugar belo para enterrar sua irmã. Achou.


Bem ao lado da entrada de sua casa, havia um canteiro não tratado de flores, pelo visto, ninguém havia as regado durante um bom tempo, mas talvez se começasse a regar agora, haveria um belo canteiro no futuro.


Retirou todas as flores com muito cuidado, cavou um buraco, o mais profundo que conseguiu.


Gotas de suor escorriam pelo seu rosto perfeito, andrógeno, alguns fios de cabelo na frente de seus olhos verdes rubi, como o da mãe e da irmã. Sua roupa vitoriana, agora suja, com alguns rasgos causados pela pá, que usou para cavar o buraco.


Cobriu Lucy com um lençol cor-de-rosa com algumas flores estampadas, o lençol que sua mãe havia costurado à seis anos atrás, especialmente para Lucy.


Seu corpo já não se mexia, estava tão pálida, tão fria, parecia que iria acordar a qualquer momento. Mas não acordou.


Agora Lucy estava coberta por terra e flores roxas.


Antônio jogou Marta em um lugar lamacento, perto do Lago Montres.


O sol estava dormindo, e acordando em outro lugar.


Antônio estava sujo, suas vestes rasgadas e imundas, mas ele não queria se lavar, não queria pensar. Jogou a pá para o lado, ela bateu em uma arvore, que se estremeceu.


Antônio entrou em sua casa, e foi diretamente para o piano, onde tocou a mais triste e raivosa melodia, até errar novamente um dos acordes, e gritar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Vermelho Escarlate Capitulo 2- Doenças e Traumas

Capitulo 2 - Doenças e Traumas





Marta, em meio de suas doenças e manias, lembra-se somente de suas tristezas e rapidamente escreve uma carta simples, uma despedida, com motivo e razões sobre o passado, e sobre o que vira no futuro. Com pena de si mesma, e de sua pequena e preciosa neta, decidiu acabar com este jogo.

Pediu a deus que a levasse em paz ao céu, mas o mesmo, não lhe mandou nenhum sinal de que faria.

Marta então abriu sua gaveta, vasculhando-a, apanhou uma chave e a colocou em seu bolso.

Rogou novamente a Deus, que nada fez. Jogou sua pequena carta em cima da mesa, onde havia seus rascunhos amassados, seu diário com algumas folhas rasgadas.

_ Deus, mostra me um sinal! Um sinal para não precisar fazer o que pretendo! – rogava Marta desesperada.

Um anjo a observa, de costas, ela mal percebe sua presença, e continua orando, rogando, até perceber a presença do sinal.

O anjo, fitou diretamente os olhos de Marta, cansados de chorar.

Ele estava sentado na janela aberta, que por onde agora, ventava forte, espalhando os papeis pelo quarto, fazendo com que o sol brilhasse atrás de si mesmo, Marta olhava-o como se fosse deus.

_ Para quem oras? – a voz do anjo iluminou o quarto. O cabelo e os olhos vermelhos do mesmo estavam direcionados para a senhora.

Marta correu ate seus pés, encheu de beijos e encharcou de lagrimas.

_Por favor, leve-me para junto de minha filha, meu marido!- Mal podia se acreditar que Marta Belluzzi, faria o que estava fazendo agora, rogando para o tal anjo. Ninguém nunca imaginaria algo assim de Marta, uma velha esnobe, orgulhosa, exibida, mas que mesmo assim rogava para ele, mesmo antes, nunca tendo acreditado na existência de Deus.

O anjo observava a reação da senhora, com nojo e ignorância nos seus olhos, respondeu:

_Para que levaria “algo” tão... Asqueroso e nojento comigo? Arranje seus próprios modos de ir para o céu! Oras, não tens um pingo de inteligência, para notar que nem deus, nem ninguém iria querer uma presença tão inferior por perto?

A mulher imediatamente parou de beijar os pés do anjo e o fitou com medo, se afastou para trás, ainda mirando seus olhos vermelho escarlate.

_ O que olhas? – As suas asas se abriram e com um impulso saio pela janela, algumas penas caíram, e se desfaziam ao se separar das assas, diluiam no ar.

Ao ver que o anjo, aquele que minutos atrás trazia esperança a Marta, que em fim mataria os fantasmas de seu passado, agora havia desaparecido entre suas penas, a loucura ficou mais presente em seus olhos.

“Deus me despreza desta maneira?”.

Levantou-se em silencio e foi ate a janela, observou as árvores, as montanhas de um lado, de o outro a cidade, e embaixo o lago...

O lago onde havia aquele fato acontecido.

_ Já que Deus me despreza, já que quase nada tenho...- falou em tom enlouquecido e começou a rir.-Lucy, Lucy, Lucy... – repetia cantarolando. -Lucy, Lucy, Pequena Lucy... Pequena Rose...- Cantarolava enquanto saia de seu quarto, indo em direção ao de Lucy.

O piano tocava no fundo acordes fortes e bravos, Marta sorria.

Seus passos eram arrastados, o corredor era comprido e escuro, a única janela ali, na direção contraria de Marta, sempre permanecia fechada, pois era a janela em que Rose sentava para observar o Lago Montres e pentear seu cabelo, todo dia de manha. Passou pelo corredor, ate chegar ao quarto de Lucy.

Sem bater na porta, entrou.

_Lucy, Lucy, Pequena Lucy... – cantarolava, abrindo a porta.

Entrou no quarto, e observou Lucy dormindo em meio de seus fios de cabelos loiros, exatamente, como Rose dormia quando criança. As semelhanças entre as duas eram inacreditáveis, ao menos pelo fato de serem mãe e filha.

Fechou a porta.

Os olhos enlouquecidos de Marta fitavam sua neta de longe, e aos poucos, de perto.

Suas mãos a envolviam sem a encostar, um sorriso enlouquecido enrubesceu o rosto idoso de Marta.

O piano ainda tocava no fundo. Os acordes iam ficando mais leves, e tristes.

Lucy acordou.

Abriu os olhos lentamente, deixando o verde rubi aparecer deles. Ao ver o rosto da avó, enlouquecido, seus olhos fitando-a, foi para trás, tentando recuar, fugir.

Marta a perseguia, sem encostá-la.

A garota ia cada vez mais para trás, suas mãos perderam o apoio e Lucy caio da cama de casal, e recuou ate encostar na parede, espantada, se protegia com as mãos para frente de seu rosto, encolhida e amassada na parede.

Marta se aproximava, ainda cantarolando, mais e mais perto de Lucy, que tentava gritar, mas como sempre, nenhum som saia de sua pequena boca.

A pequena sabia que mal podia falar, como ela chamaria por socorro? Por seu irmão... Antonio. Se pudesse falar neste momento a única coisa que queria era Antonio, o único que poderia a salvar das mãos daquela doida que a tratava como se fosse uma boneca e ela, Lucy, não podia fazer nada. Não podia gritar, não podia respirar.

Agora aquela senhora esnobe a segurava pelo pescoço, tentou resistir mas era fraca, era apenas uma criança... Logo parou de respirar.

Então era a vez de Marta, seus olhos loucos imaginavam um jeito de tirar a própria vida, era idosa e fraca logo, qualquer coisa que fizesse poderia correr risco de vida. Optou por pular da janela do quarto de Lucy, derrubando um pequeno criado mudo sem intenção, o que chamou a atenção de Antônio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Vermelho Escarlate - Capitulo 1

Capitulo 1- Apenas o Início






Um erro nos acordes, Antônio sabia que era punição. Largou o piano, que tocou com tanta raiva após tanto tempo sem nem vê-lo.Depois de um acorde grave desafinado, ele fecha com tanto ódio e amor o piano, e se dirige à janela. Olha o céu e sua mente, criando fantasias para esconder o passado, e pensando em um futuro, imaginando como seria se... Não tivesse ocorrido daquela maneira sua infância.
De repente, um estrondo aparece, atrapalhando sua calma, o ódio vem à tona, tomado por preocupações. Deixa a janela, e vai em direção ao andar de cima, sobre os degraus, passando as mãos lentamente pelo corrimão, vasculha quarto por quarto.
No primeiro dos quartos, o seu, nada estava errado, não havia motivos para se preocupar ali, estava vazio. Suas prateleiras como sempre vazias, sem fotos, nenhuma recordação, sua cama arrumada, como sempre, o guarda-roupa fechado, tudo em plena ordem.
No segundo quarto, o de sua avó, estava vazio, apenas papeis espalhados pela estante, a janela um pouco aberta, deixando um fio de claridade iluminar o quarto.
No terceiro quarto, Antonio não poderia entrar, pois, sempre estava trancado à sete chaves, e só quem as possuía era sua avó. Naquele quarto estava guardadas muitas lembranças.
O banheiro, a biblioteca, tudo na mais arrumada ordem, só um quarto, além do terceiro, não havia sido aberto, o quarto de Lucy.
O medo então, tomou conta de Antonio, como muitas vezes em sua vida, estava tremendo e soando, sua pele já pálida, estava mais branca, andou pelo corredor escuro se guiando pela parede, chegou até a porta.
Com sua mão tremula, encostou na maçaneta, e lentamente abriu a porta.
Sabia que não podia entrar ali, pois Lucy, sua irmã, era muito especial, ele não merecia a companhia, das poucas vezes que a viu, quando era apenas uma criança, lembra-se dela ter o sorriso mais belo que já viu, ela era linda como a mãe, mas com um charme puro, e inocente.